CARLSON GRACIE TEAM
CARLSON GRACIE
a criação
Carlson Gracie possuía todos os elementos de um gênio: dom natural, personalidade marcante, atitudes polêmicas e certa dose de indisciplina. Filho mais velho de Carlos Gracie e Carmem, nasceu em 13 de agosto de 1933 e seu primeiro nome foi Eduardo. Como Carlos Gracie estudava a numerologia, resolveu após algum tempo mudar o registro do filho que passaria a se chamar Carlson. Todos os filhos de Carlos deveriam ter as letras iniciais “C” ou “R”, por considerar que a força dessas letras poderia ser transmitida aos filhos. Aos cinco anos participou de seu primeiro campeonato, em 1950 aos 17 anos foi campeão Carioca de Jiu Jitsu. Ainda aos 17 anos fez sua primeira luta profissional contra o japonês Sakai. Essa luta foi preliminar a luta de Hélio Gracie contra Kimura. Carlson pesava 67 kg contra 92 kg do japonês,e mesmo assim a luta acabou terminando em empate. Por ser o mais velho da segunda geração da família Gracie, Carlson tinha a responsabilidade natural de ser o novo campeão da família, o que fez com extrema naturalidade. No início da carreira enfrentou diversos lutadores famosos no Rio de Janeiro como o capoeirista Cirandinha e Passarito, sempre com diferença de peso acima de 15 kg. A violência de seus combates e suas vitórias deram tanto destaque na imprensa que logo ficou conhecido como “O Garotão”. A genialidade de Carlson se mostrava não só em suas lutas, onde quase sempre era o mais leve, mas também em suas atitudes que mostravam a serenidade com que encarava os mais perigosos lutadores. Nas suas primeiras lutas, dormia 15 minutos antes, tamanha era sua tranquilidade.Com o passar do tempo foi ficando avesso aos treinos duros e obrigava Carlos e Hélio a manterem extrema vigilância nos períodos que antecediam as lutas. Uma das instruções de Carlos era que mantivesse abstinência sexual antes das lutas, o que era praticamente impossível, visto seu perfil boêmio e sua fama na cidade.
a consagração
A luta que elevou Carlson ao nível de ídolo foi a seqüência do capítulo mais dramático vivido pela família Gracie: a derrota de Hélio Gracie para Valdemar Santana. Valdemar Santana praticava luta-livre desde os 18 anos e começou a treinar com Helio Gracie aos 21 anos. Passou a trabalhar como roupeiro da academia para pagar as mensalidades. Depois de desentender com Hélio, Valdemar desafia seu mestre e após 3 horas e 45 minutos, o combate mais longo da história, Valdemar venceu Hélio Gracie. Segundo o próprio Carlson, Valdemar era tido como um dos lutadores mais duros da academia Gracie e foi seu companheiro não só nos treinos como também viraram amigos. Porém após a derrota do tio, Carlson se vê obrigado a resgatar a honra da família. A luta aconteceu em 8 de outubro de 1955 no estádio do Maracanãzinho –Rio de Janeiro.Carlson e Valdemar lutariam de Kimono e nas regras do Jiu Jitsu, pois o Vale-Tudo estava proibido na cidade. A luta teria cinco rounds de 10 minutos e apesar da superioridade técnica de Carlson, a luta terminou empatada. A segunda luta entre Carlson e Valdemar também foi no Maracanãzinho e aconteceu em 21 de Julho de 1956. Devido a pressão feita e ao sucesso da primeira luta, o chefe de polícia permitiu que a luta fosse um Vale-Tudo sem kimono e com seis rounds de 10 minutos. Carlson, 23 anos pesou 75,700 kg e Valdemar, 26 anos, pesou 77,800 kg. Valdemar contava com uma musculatura e força física superior e pressionou Carlson no primeiro Round. Porém a supremacia técnica e os golpes mais precisos de Carlson deixam transparecer que a vitória seria inevitável. Valdemar, já com o rosto inchado,começa a sair do ringue fazendo que a luta fosse repetidamente interrompida. Aos 9 minutos do 4º round, Valdemar e Carlson caem do ring e somente Carlson retorna. Com a desistência do “Pantera Negra” (apelido dado a Valdemar por Hélio Gracie), Carlson Gracie conquista o que seria sua mais importante vitória e enfrentaria Valdemar mais quatro vezes, vencendo três e empatando uma.
o treinador
Carlson, assim como Conde Koma e seu tio Hélio, refinou seu Jiu Jitsu na sua forma mais pura, usando-o em combates sem regras. Nesses combates, Carlson se mostrou completo, pois vencia finalizando com estrangulamentos e chaves, mas também usava o Jiu Jitsu como caminho para aplicar socos e chutes, sem com isso sofrer golpes. Apesar dessa experiência única no Vale Tudo, foi no Jiu Jitsu esportivo que Carlson conquistou sua fama como treinador. Foi na academia de Niterói que formou seu primeiro faixa preta, Serginho Íris e a partir disso, sua sede de títulos aumentava cada vez mais. Sempre envolvido em jogos de todos os tipos e brigas de galos, Carlson não era como Hélio e Carlos, que tinham o Jiu Jitsu como forma de Defesa Pessoal e ferramenta filosófica de aprimoramento da auto-segurança. Para Carlson, o Jiu Jitsu dava vazão ao seu espírito competidor e depois que o Jiu Jitsu esportivo foi instituído, Carlson queria a vitória dos alunos. Alguns afirmam que o Jiu Jitsu praticado pelos alunos de Carlson era muito limitado e priorizava a força. Isso não é verdade, pois foi graças aos alunos de Carlson é que os alunos das Academias Gracie, Royler Gracie, Royce Gracie, Irmãos Machado, Marcelo Behring e Rickson Gracie puderam ter adversários à altura e a motivação para buscar evolução constante. Uma característica que Carlson tinha como treinador era aproveitar o potencial do atleta. Se o lutador era bom em estrangulamentos, Carlson melhorava-os para que ganhasse as competições. Não fazia questão de melhorar seus pontos fracos e sim fazer com que os pontos fortes vencessem a competição. Apesar de ter sido um atleta que não apreciava treinos duros e de ter um estilo de vida caótico, Carlson exigia dos alunos o contrário, ou seja, dedicação total nos treinos, sessões de preparo físico intenso e os famosos desafios Gracie continuaram de outra forma. Como a quantidade de campeonatos na década de 70 ainda era pequeno, seus primeiros faixa pretas como Carlos Rosado lembra que num dia qualquer sem aviso, Carlson trazia algum lutador de outra academia para testar seus próprios, fazendo com seus alunos estivessem sempre prontos. Grande parte do estilo despojado e por vezes até mesmo desrespeitoso dos treinos de Jiu Jitsu atual são marcas deixadas por Carlson. Por outro lado, a obsessão pelo treinamento físico, a busca pela vitória a qualquer custo são marcas registradas que o mestre deixou no Jiu Jitsu. Durante a década de 70, 80 e parte da década de 90, a equipe de Carlson dominou todos os campeonatos. O exército que o treinador montara era, além de bem treinado, também superior em número, pois suas mensalidades ainda eram as mais baixas e caso o aluno trouxesse títulos, poderia até mesmo ficar isento das mensalidades. Foi o caso de Wallid Ismail, que veio de Manaus e morou na academia durante anos. Em troca, trouxe diversos títulos e talvez um dos mais importantes da década que foi a vitória de Walid sobre o então já tri-Campeão do UFC Royce Gracie. Podemos citar alguns de seus alunos mais importantes como Amauri Bitetti, Murilo Bustamante, Carlão Barreto, De La Riva, Cássio Cardoso, Allan Góes, José Mário Sperry, Bebeo Duarte e ídolos mais recentes como Vitor Belfort, Ricardo Arona e Paulão Filho.
o legado
Carlson Gracie foi um dos representantes mais importantes de sua família. Além de ter sido o principal lutador da sua geração, Carlson se tornou um excelente treinador, formando exércitos que dominaram o circuito do Jiu-Jitsu durante anos e que no MMA tiveram o mesmo sucesso. Mas o filho mais velho de Carlos Gracie não formou apenas ótimos lutadores. Seus ensinamentos influenciaram praticamente toda a geração atual de grandes treinadores, que comandam as principais equipes de MMA do planeta.
Fontes: Vulkan / Graciemag / Tatame / Portal do Vale Tudo / Familiares e amigos.